segunda-feira, 11 de março de 2013

UFF divulga resultado do concurso de ideias para revitalização do Cinema Icaraí

Hoje foi divulgado o resultado do concurso de projetos arquitetônicos para a remodelação do Cinema Icaraí promovido pela Universidade Federal Fluminense que, juntamente com a prefeitura de Niterói, compraram o imóvel anteriormente ameaçado de demolição.

No site da UFF, é possível ver os três projetos que ficaram em primeiro, segundo e terceiro lugares. Os projetos têm muitas semelhanças em suas propostas, como a possibilidade de projeções ao ar livre no terraço que substituiria o telhado. O curioso do primeiro colocado é o aparente esquecimento da sala de projeção, que não é visível no projeto disponível na internet. Por outro lado, o vencedor merece o elogio de colocar uma imagem do futuro da sala de exibição exibindo "Psicose", de Hitchcock, na tela, enquanto o segundo colocado optou por uma imagem da "sala multiuso" com um espetáculo de música clássica...

Entretanto, o mais preocupante e digno de nota não são os projetos, mas a fala do reitor da UFF, Roberto Salles, citada na reportagem, defendendo que  "o complexo cultural deve ser mantido por recursos próprios" e tomando como meta “tornar o Cinema Icaraí autossustentável, para dar acesso multicultural à população".
 Fico pessimista com esse discurso que coloca a autossustentabilidade financeira como meta a se alcançada a todo custo, e como se isso fosse pré-requisito para o Cinema ser mais acessível (e logo democrático). Para um espaço cultural público a autossustentabilidade financeira deve vir naturalmente como uma possível consequência positiva de uma programação criativa, um gestão responsável e uma administração com autonomia e sem ingerência política. Entretanto, colocar a autossustentabilidade financeira como principal objetivo é desvirtuar o objetivo de um espaço como o Cinema Icaraí. Afinal, o reitor fala ainda em alugar o espaço para empresas que querem fazer eventos! Isso dá margem a vislumbrar o espaço cultural como futura sede de congressos caríssimos e festas de final de ano de firmas. Ou seja, o uso privado do espaço público. Para essas atividades, o Estado não deve gastar dinheiro, pois o mercado pode e consegue suprir essas necessidades (por exemplo, hotéis dotados de salas de convenção). Agora um espaço cultural pertencente ao Estado deve ter como objetivo oferecer cultura à população da forma mais democrática possível - e se para isso for necessário mantê-la com recursos públicos, isso não é pecado algum como a ideologia neoliberal prega atualmente! Sobretudo numa cidade como Niterói tão carente de uma programação cultural de qualidade, essa ameaça de uma orientação voltada à autossustentabilidade é preocupante. O teatro da Associação Médica Fluminense, por exemplo, tem essa meta e por isso tem todo o direito de só programar peças infantis ou com humoristas da TV ou youtube. Esse teatro, como o do Abel, cumpre o seu papel. O papel do Cinema Icaraí deve ser outro. Afinal, para dar lucro, já existe o Cinemark do Plaza Shopping na cidade. A UFF não tem fins lucrativos e, portanto, o Cinema Icaraí não deve ser obrigado também a ter.

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